quarta-feira, 9 de novembro de 2016

6.11.16 - O.Azeméis | Amarante | Alto de Espinho | Vila Cova | Fisgas do Ermelo | O.Azeméis

Os fins-de-semana têm tendência a serem retemperadores: após uma intensa semana de trabalho e uma época de corridas que se prolongou até há bem pouco tempo, aproveito qualquer bocadinho para dormir, em qualquer sitio!
Sexta à noite e sábado todo o dia foi assim. Bem, ao jantar tive uma excelente conversa e um não menos especial Hennessy que elevou a banal sobremesa a níveis divinos.
Domingo acordou tarde mas o sol que entrava pela janela do quarto trouxe a força necessária para pensar em andar de moto.
Daqui a uns dias vou para o Peru e esta era a oportunidade de testar o casaco da Alpinestars com membrana em Goretex e sentir as botas offroad calçadas uma vez mais nos pés.
Às onze da manhã o sol foi um amigo cobarde que me fez sair de casa com umas calças sem forro de inverno e com a membrana do casaco impecavelmente colocada na Shad do depósito.
Dada a hora nada propícia a começar uma aventura, segui pela autoestrada até Amarante. Chegado, enregelado, tirei o forro de inverno do casaco e dei-lhe o devido uso. Se era para começar a aventura, pelo menos tinha que a fazer quente!
Em Amarante segui pela N15; a corrida antes e após as corridas de Vila Real; curva contra curva numa estrada de bom asfalto e onde as casas vão desaparecendo dando lugar a castanheiros e carvalhos. Desaparecendo foi, igualmente, o sol e no Alto de Espinho - logo a seguir à Pousada do Marão ter virado à direita por uma estrada íngreme que me levou até outra, em terra batida, em direcção às eólicas - não consegui tirar o capacete dado o frio e vento que se faziam sentir.
"Vem aí neve!", ecoou na minha cabeça uma das frases predilectas da minha avó quando chegava o tempo frio.
"Pois vem e eu vou-me pôr a andar daqui para fora em direcção ao sol", pensei.
O objectivo da viagem era ir até às Fisgas do Ermelo e, do Alto de Espinho, por entre o nevoeiro denso, vislumbrei a estrada até lá. Quer fosse por asfalto quer fosse por terra.
Tomando uma estrada de montanha até encontrar a N304, percorri as cores de outono que se estendiam dos campos até às bermas, dando uma áurea mágica ao Vale da Campeã.
Algures pelo zigue-zague, uma placa indicava " Santuário de Nossa Senhora de La Salette". Estarei em França?! é que não minha terra não era de certeza absoluta.
Não estava. Estava mesmo no meio da Serra do Alvão, num vale lindíssimo e pacífico, ouvindo os chocalhos ao longe e, apesar do frio, ter almoçado uma sandes no parque de merendas do santuário; uma capela caiada de branco e um relvado com platanos; deserto, idílico, como um velho ermita a observar o seu mundo.
O Santuário estava fechado mas logo abaixo dele, umas velhas minas apuraram o meu sentido de aventureiro e, no cavalo preto, por lá andei a descobrir trilhos em terra batida.
Era cedo mas o sol lá ia desaparecendo e, por isso, foi com grande velocidade que desci até ao Ermelo e, depois, segui para as Fisgas.
Um regato de água ao longe numa queda de água quase seca. Na descida, aproveitando a mobilidade da Transalp, meti-me por um caminho pedestre e fui dar à bacia da queda de água, ali no Rio Olo.
Se existe céu, deve ser algo assim. Mas cheio de malta porreira e de músicos famosos, porque aquilo estava deserto!
Era hora de regressar, quase de noite, por entre cabras e ovelhas que tapavam  a estrada.
Mondim, Celorico, casa.
Foi assim o domingo.





domingo, 6 de novembro de 2016

30.10.16 - Ammaia | Marvão

O sol ia alto quando acordei na Casa da Eira, no topo da Rampa de Portalegre, dividindo os concelhos de Portalegre e Marvão.
Antes deste domingo soalheiro foram dias de competição que me trouxeram a vitória na Baja Portalegre 500, no Desafio Polaris ACE.
Em pleno Alto Alentejo, mesmo no alto do seu planalto, além de competir também há que aproveitar o melhor que a terra dá: a paisagem, a gastronomia, a cultura destas gentes.
Melhores paisagens do que as que tive em prova, cruzando campos e rios, acelerando ao lado de touros e cavalos, vendo aves de rapina ao longe, num misto de competição e aventura que tanto gosto e que nos remete aos primórdios dos ralis.
Também nível gastronómico, a Baja Portalegre 500 é uma autêntica festa: a seguir ao Dakar é a prova mais conceituada no mundo, é a última do campeonato, toda a gente quer participar e são milhares na beira da estrada a ver.
Há melhor gastronomia do que uma mesa repleta de gente com estórias a contar? Com muitas experiências de vida, com rugas de tanto sorrir, com a pele queimada por todos os sóis. E esta mesa existiu, no Tomba Lobos e no Mil Hómens, nas roulotes de bifanas, na simpática cozinha da Casa da Eira.
Hoje domingo, já não há festa.
Mas estar em Portalegre e não ir ao Marvão, é uma flor que não floresce.
Descendo da Casa da Eira em direcção à Portagem, um pouco antes de se chegar, deparamo-nos com mais um vestígio civilizacional da época romana na Península: Ammaia.
Uma autêntica cidade está a ser descoberta e está-nos a contar a história dos romanos por volta do ano 45 dC até 166 dC.
O Alentejo é rico nas civilizações que albergou e os templos romanos e as técnicas agriculas e de rega herdadas dos árabes são prova disso. Ali ao lado, em Castelo de Vide, séculos mais tarde,  estiveram os Sefarditas, tarnsformados em Cristão Novos.
Em Ammaia podemos observar objectos em metal e em vidro, com um estimável estado de conservação, provando que há 2000 anos atrás as técnicas usadas eram muito avançadas.
No museu observam-se miniaturas de filigrana e botões contando o quotidiano dos habitantes, com uma precisão extrema.
Fiquei maravilhado com estes descendentes de Tubalcain!
A cidade era grande e pode-se passear pelo campo das escavações, com um total de 25 hectares. A algumas ruínas junta-se o melhor que a natureza oferece e o passeio no campo é muito enriquecedor.
Com o sol no alto e uma ave de rapina a estender as suas asas para planar ao sabor do vento, foi hora de subir pelo zigue-zague que vai da Portagem até ao Marvão.
 Há sempre um recanto novo, uma sombra, um pouco mais que se vê no horizonte.
Entre casas caiadas e outras que de desfeitas que estão dão um ar romântico à Vila, foi com um sorriso que regressei a casa.