domingo, 27 de dezembro de 2015

27.12.15 - Abrantes | Mora | Alcaçovas | Aljustrel | Ameixial | Faro

O sol brilhava no Tejo, estava cheio de vontade de andar de moto, reinando a boa disposição. A cantar qualquer coisa do Jorge Palma, foi com rapidez que alcancei Ponte de Sôr, Montargil e Mora.
Entre Ponte de Sôr e Montargil, pelo "pequeno" jacto privado estacionado no aeródromo, as casas e condomínios sobre a albufeira da barragem e alguns carros, parecia que estava na Suíça.
Em Mora,  ao entrar na vila, tive uma visão australiana: para divulgar o fluviário, colocaram na estrada placas amarelas com as espécies que se podem encontrar nos rios, a exemplo do que se vê com cangurus, crocodilos e tubarões, na Austrália. Muito giro!
Também em Mora tive a primeira paragem demorada do dia: encher o depósito e contar a razão da minha viagem à gasolineira, cujo sobrinho tem um carro muito bom e também anda muito depressa até chegar ao Algarve.
Moto atestada de gasolina, foi tempo de rumar a Alcaçovas. Não sei por que razão, fiz esta parte do percurso muito mais devagar do que tinha vindo até então.
A partir daqui comecei a ver algo que gosto muito: o montado. Aquilo que deveria ser a agricultura portuguesa, a bem da qualidade e sustentabilidade: o sobreiro, o porco e os restantes animais. Num ecossistema perfeito, numa simbiose única que se nota na qualidade dos produtos que chegam à nossa mesa.
Em Alcaçovas, dado o programa da SIC Notícias " Ir é o melhor remédio", com Teresa Conceição e Martin Cabral, procurei o Museu do Chocalho. " Fechado, é domingo". A fábrica, igualmente fechada.
Queria um chocalho, agora que é património imaterial da humanidade, e consegui que um senhor me fosse abrir a sua loja para eu comprar um. Usado, mais bonito que os novos que ainda brilham muito. " Sabe, eu também fabrico mas não faço publicidade disso", disse-me o senhor a medo.
No Torrão tirei fotos na entrada da vila, junto à fonte; a partir de Odivelas, mas especialmente depois de Ferreira do Alentejo, o vento foi muito, provocando alguns calafrios: ora era um travão ora me empurrava lateralmente.
Depois de Ervidel, junto à Barragem do Roxo, vi um grupo de caçadores. Era hora do almoço e parei a perguntar onde podia almoçar bem e produtos regionais: "entra em Aljustrel que é tudo bom". Fui ao Cabecinha.
De entradas serviram-me um paio de porco preto e salada de ovas. O paio estava magnífico. Depois, uma sopa de cação, com muito pão, coentros e duas postas generosas de peixe. Um sabor divinal!
Depois de almoço, em vez da sesta, fiz-me à estrada.
Com o vento forte, queria passar rapidamente Castro Verde e Almodôvar e entrar na Serra do Caldeirão, para estar mais abrigado. Assim foi.
Quando comecei a subir o Caldeirão, o vento parou. Com as curvinhas do Caldeirão, senti-me um Rossi, com a bota a roçar a estrada por diversas vezes, num carrossel estonteante. Sobe e desce, curvas abertas, rápidas e curvas apertadíssimas, feitas em 2ª e 1ª velocidade, com o joelho a ir ao chão. Loucura, bem dizia a placa que esta estrada á património!
Não sei se é o destino, se é feitio ou o meu medo de ficar sem gasolina: a exemplo de todas as vezes que passei aqui de carro, parei na bomba de gasolina do Ameixial onde, o mesmo gasolineiro com um casaco do ACP Rali de Portugal, me serviu. Mais dois dedos de conversa antes de rumar a Faro e ao marco número 737.
Perdi-me em S. Brás de Alportel - não havia indicações da N2 - em Faro tive que atalhar devido às obras na cidade mas cheguei ao dito cujo marco.
Que alegria! Parecia que tinha ganho uma corrida.
Foi um marco, foi um check no meu mapa de viagens.
Aconselho vivamente a fazerem este percurso, de moto, carro ou bicicleta. Aproveitem.
Uma estrada que tem 737 motivos de interesse, que passa por localidades lindíssimas do nosso Portugal.
Eu fiz em dois dias porque conheço a maior parte dessas localidades; mas pode demorar uma semana ou mais, sendo que há tanta coisa para ver, ler, comer, beber, viver. Passei por 10 distritos, inumeras aldeias, vilas e cidades. Vi aves de rapina, cegonhas, pardais, garças, porcos, vacas, ovelhas, cavalos. Estive na serra e no campo, cruzei o Douro, Mondego, Zêzere e o Tejo, apenas para referir os maiores. Passei imensas albufeiras e barragens.
Jogar com números e tirar fotos nos marcos desses números é um must: 100, 357, 555, 666, apenas para dar alguns exemplos.
Portugal tem, no máximo 561 km de comprimento, desde Melgaço ao Cabo de Santa Maria. A estrada tem 737 km, ou seja, quase duzentos quilómetros de curvas que acrescentam interesse.
Neste momento descanso no Stay Hotels de Faro. Central acessível, uma simpatia de atendimento, um bom banho e excelente cama: o luxo q.b. para um aventureiro solitário.
Abraço, amanhã regresso a casa.







26.12.15 - Oliveira de Azeméis | Chaves | Lamego | Penacova | Abrantes ( N2)

Há quem tenha a Route 66, a Carretera Austral, a Panamericana. Nós temos a Nacional 2: de Chaves a Faro, outrora um conjunto de Estradas Reais e Nacionais que, em pleno Estado Novo, se uniram para ligar o topo norte ao topo sul do país.
Um percurso lindíssimo, num sobe e desce entre serras e vales, uma espinha dorsal do que deveriam ser as cidades e vilas mais importantes do país.
Há anos que queria fazer este percurso - com o João, o Nico e o Domingos, de Mustang - mas nunca houve oportunidade. Fim-de-semana natalício, temperatura elevada para a altura e céu limpo: eis o que eu necessitava.
Saí de Oliveira de Azeméis às 8:30 da manhã, em direcção a Chaves. Não é importante, apenas descrevo porque foram quilómetros acumulados. A32 e autoestradas seguintes, a velocidade constante para não estragar os pneus da Transalp.
Chegado a Chaves foi tempo de atestar o depósito, comer uma maçã, tirar a foto junto do marco da estrada com o Km 0 e... seguir viagem.
Às 10:30 o sol subia e aquecia o ambiente. Conduzia animado, contente por estar ali, cantarolava Chico Buarque na ecofonia do capacete.
A exemplo de como a estrada Nacional 2 surgiu, como um conjunto de várias estradas, retalho do país, também eu já tinha estado em vários locais da Nacional 2.
Assim, de Chaves até Vila Real, passando por Vidago e Pedras Salgadas, não parei. Já o tinha feito em Fevereiro.
O mesmo em Vila Real, estive lá a correr aquando da visita do WTCC.
Descendo de Vila Real para Sta. Marta de Penaguião e o Douro, a Régua, pelo zigue-zague que percorre os socalcos do nosso melhor néctar. Também não fiz nenhuma paregem prolongada, apenas desfrutei a condução.
Assim, a primeira paragem a sério foi em Lamego. No centro da cidade, parei em plena praça que acolhe a escadaria do santuário da Nossa Senhora dos Remédios, para tirar uma foto com a moto. Ou pela ousadia ou pelo amarelo fluorescente das malas da Alpinestars, fui o centro das atenções.
De Lamego segui para Viseu.
Se até aqui a Estrada Nacional 2 estava bem assinalada, depois desaparecem as placas, os marcos não são bem visíveis e parece que não há interesse turístico em manter este ícone das roadtrips. Custa tão pouco...
De Lamego segue-se para Castro Daire e, depois, para Viseu. Como não choveu muito, a estrada continua bonita, avermelhada e castanha, com as cores de Outono que vi há dias.
Em Viseu voltam a desaparecer as placas da Nacional 2. Mas com recurso ao GPS lá consegui encontrar o rumo e seguir para Tondela e, depois, Santa Comba Dão.
Se até aqui a estrada era em zigue-zague, depois de Viseu a estrada entrou num eixo mais certo rumo a sul.
Em Santa Comba foi tempo de voltar a atestar o depósito para, quilómetros depois e após a Aguieira, parar junto ao Mondego, em Penacova, para tirar fotos.
Góis, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos. Nomes do Rali de Portugal, por onde passei, com que sonhei, em tempos, realizar em carros de competição.
Por falar em nomes, a Nacional 2 está repleta de nomes das nossas piadas: "Colo do Pito", "Picha", "Venda da Gaita", "Escalos de Baixo". Até nisto o percurso é rico!
De Góis até Pedrógão o zigue-zague voltou; de tal forma que, sabendo que deveria rumar a sul, pela posição do sol andei muitos quilómetros para norte, este e oeste.
Cruzei o Zêzere na Barragem de Cabril e, de lá, vi o sol a baixar por entre pontes. Um escarpa separa a antiguidade da modernidade, como que a altura que separa as pontes sejam a diferença civizacional. Será?!
Na Sertã as iluminações de Natal davam um brilho diferente ao rio, com muitas famílias a aproveitarem o fim do dia de inverno para passearem..
O sol ia-se pondo atrás das montanhas e o frio passava o casaco e as calças.
Debaixo de um céu avermelhado, com as estrelas a começarem a aparecer, cruzei Vila de Rei em direcção a Abrantes.
Nove horas e meia depois de começar a andar, parei. Quase 600 km depois de sair de casa é tempo da moto descansar; e eu também. Amanhã deverei chegar a Faro.









domingo, 13 de dezembro de 2015

7.12.15 - Freixinho | Lapa | Penedono | S.João da Pesqueira | Pinhão | Régua | Oliveira de Azeméis

Abrindo de manhã a janela do quarto, o nevoeiro subia lentamente das águas frias da barragem; Aquilino conhecia aquela terra melhor que ninguém: terra dura, da pedra e da vida, enrijecendo os corpos e as almas. Uma terra onde, com os dentes serrados, se fala de cogumelos, castanhas e, caminhando para norte, do Douro.
Depois de um pequeno almoço reforçado com queijos, presunto, compotas caseiras,  segui viagem rumo à Lapa.
No alto de Sernancelhe, um santuário do que remonta ao Sec. XV, edificado da rocha com rocha, protege a imagem da Virgem Maria, datada do Séc. IX. Conta a lenda que uma menina muda, entrando numa gruta, encontrou a imagem escondida por religiosas, cinco séculos antes. A sua devoção foi tal que a Virgem deu-lhe o dom da fala.
Um edifício cobre a gruta, alberga a imagem e um crocodilo. Sim, um crocodilo! Depois surgiram outras construções, como um colégio. Ao Domingo a venda de produtos regionais é motivo de romaria.
De lendas vive aquela região e eu juro que comigo ficam os segredos lá passados; lendas ou não.
Depois da fonte das três bicas e de ver a nascente do Rio Vouga, o caminho de infância continuou: Penedono.
Na estrada estreita, ainda antes da Beselga, olhando para o alto já se vê o esguio castelo.
Datado do Sec. X, disputado por cristãos e muçulmanos, foi depois aproveitado por D. Sancho I para proceder ao repovoamento da região, na altura fronteiriça,  através de Foral.
De xisto e granito, despido, com a excêntrica forma de trapézio e com ameias piramidais, lá no alto da vila medieval, vê-se a imensidão das Terras do Demo e a Corga, para meu regalo.
De Penedono o destino foi para norte, até à Pesqueira.
Gente antiga, olhares de soslaio para com os estranhos mas a simpatia natural que surge com com o primeiro bom dia.
Depois do repasto, foi tempo de ir até ao Alto Douro Vinhateiro, descendo até Pinhão.
Da ponte de ferro, tão característica na nossa paisagem pós revolução industrial, vê-se o Douro e o Pinhão a abraçarem-se: um forte e outro mais fraco mas sempre juntos, mantendo um equilíbrio perfeito e uma harmonia com a pequena vila do Séc. XIX.
Com o sol a baixar e a viagem a chegar ao fim, foi tempo de percorrer a bela N222 até à Régua, ao coração do Vinho do Porto.
Dois dias pela Beira Alta, aproveitando um fim-de-semana e ponte antes do feriado. Dois dias de regresso à meninice e infância. Dois dias que podiam ter sido de sonho, caso não os tivesse vivido.





terça-feira, 8 de dezembro de 2015

6.12.15 - Oliveira de Azeméis | Vouzela | Folgosa | Vila Nova de Paiva | Freixinho | Moimenta da Beira

Domingo; o sol ia crescendo timidamente e a temperatura parecia querer subir. Mas o corpo pedia acção e a acção estava de onde o sol vem, para a serra.
Preparei a Monte Campo nova, azul e cinza, com 30 litros, e fiz-me à estrada.
N1 até Albergaria para, depois, subir o Vouga. A estrada estava escorregadia e não permitia grandes veleidades; o sol penetrava os ramos e as folhas das árvores e criava uma atmosfera acolhedora.
Com tanta curva-contra-curva, a fome apertou e a primeira paragem  foi para um café e um pastel, no Café Central de Vouzela. Uma delícia, como sempre.
Bom almoço e cedo, em Cambra? Ou almoço onde der e à hora que for?
Como a ideia era passar Castro Daire, não acontecendo como da última vez, decidi continuar viagem.
Passar S.Pedro do Sul é recordar a infância, é recordar passar nesta mesma estrada a caminho de Penedono ( o destino final), é lembrar-me da subida de paralelos com as vendedoras de laranjas, do Peugeot azul ( ou cinza, depende do ano), do carro cheio de castanhas e batatas, coisas "que a terra dá".
Asfalto bom e um percurso de grande beleza entre S. Pedro do Sul e Castro Daire. Com o tempo seco dos últimos dias, as árvores mantém as folhas e dão um colorido outonal a todo o cenário:  amarelo, laranja, vermelho escuro.
Como é bonito o nosso país!
No alto da serra, onde a a N226 dá lugar à N225, junto ao cruzamento com a N2 e a A24, desci por uma rua estreita e íngreme que me levou à praia fluvial da Folgosa.
Que encanto. Uma água límpida, cristalina, que o frio ajuda a tornar ainda mais brilhante. Cavalos e um rebanho, uns pássaros a bebericarem na água. Com passo certo, um conjunto de pedras ajudam a atravessar o rio Paiva, a caminho de Santiago.
De lá, com a fome a apertar, o destino foi Vila Nova de Paiva.
"- Onde posso encontrar um restaurante de comida tradicional?
- De onde?".
Não havia arroz de míscaros e o cabrito já tinha sido um jovem rebelde, há algum tempo.
Em Vila Nova de Paiva subi, por um empedrado, cheio de musgo, à capela de Sto. Antão e ao miradouro. Eólicas, um miradouro para as eólicas. Triste país este.
Com o espírito de Aquilino, envolto no ventre de nevoeiro, rumei ao Freixinho, mesmo ao lado da barragem de Vilar.  
O repouso foi no Hotel Rural Convento Nossa Senhora do Carmo, um convento restaurado, com uma bonita sala de jantar ornamentada com um grande espelho. Quartos com uma decor condizente com o convento e o local ideal para uma escapadinha com a companhia certa.
Por falar em jantar, aventurei-me no meio do nevoeiro e fui até Moimenta da Beira, provar o Bacalhau à Cabicanca. Muito bom!






22.11.15 - Bueu

Quando um vídeo vale mais que mil palavras:


31.10.15 - El Gouna | Cairo

A última etapa do Cross Egypt Challenge é, normalmente, a verdadeira aventura. Este ano não podia ser diferente: foram quase 600 km de etapa rolante, em sentido contrário ao da segunda etapa, com uma entrada apoteótica no caos do trânsito do Cairo, obrigando ao encerramento do anel que liga os vários pontos da cidade; às 16:30 estávamos no Cairo, depois de mais de 10 horas em cima da scooter.
Mas antes de lá chegar, tive a difícil tarefa de levar a scooter com "Harley sound" até ao Cairo.
Não repararam o escape e a pequena scooter fazia um barulho ensurdecedor. Um motim dos taiwaneses - coitadinhos, uma scooter não pode fazer barulho! -  levou que a organização me mandasse rolar sozinho entre as ultimas scooters e os camiões.
Um erro deles levou-me a fazer a pior etapa em dois anos de rali.
Enfim!
Como se isso não bastasse, ainda me tive uma menina egípcia que nunca sentou o rabinho numa moto ou scooter a chamar-me à atenção porque a minha condução era perigosa: andava muito depressa e saltava nas lombas.
Enfim!
O que vale são os amigos e o Drew deixou o seu grupo para vir rolar comigo.
A chegada foi o caos mas podémos tirar as fotos nas pirâmides.
A chegada foi um caos mas vivemos a camaradagem típica nestes momentos, com muitos beijos, abraços, fotos, bandeiras dos vários países a voarem ao vento, muita cerveja e promessas de reencontros.